terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dúvida (e sua parábola)


Uma mulher estava fazendo fofoca com uma amiga, sobre um homem que ela mal conhecia e naquela noite ela teve um sonho. Uma grande mão apareceu dos céus e apontou para ela, que foi imediatamente apreendida com um esmagador sentimento de culpa. No dia seguinte, ela foi se confessar com o velho padre O'Rourke e lhe contou a história toda.

"Fofoca é um pecado? Foi à mão de Deus Todo Poderoso apontando para mim? Devo pedir a sua absolvição... Padre, me diga, eu fiz algo errado?" Perguntava inquietantemente a senhora.
"Sim!" Padre O'Rourke respondeu à ela e continuou "Sim, sua ignorante, fêmea que eleva o mal. Tem feito falso testemunho contra seu vizinho! Tem brincando deliberadamente com sua reputação e deve se sentir duramente envergonhada!”
Então a mulher disse que lamentava e pediu perdão.
"Não tão rápido!" Disse o padre O'Rourke, "Eu quero que vá para casa, pegue um travesseiro, leve-o até o telhado, apunhale-o com uma faca e volte aqui!"

Então a mulher foi para casa, pegou um travesseiro de cima da cama, uma faca da gaveta, subiu a escada de incêndio até o telhado e esfaqueou o travesseiro. Então, ela voltou até o velho padre, como fora instruída.

"Você apunhalou o travesseiro com a faca?" Perguntou o velho padre.
"Sim, Padre."
"E qual foi o resultado?"
"Plumas" disse ela.
"Plumas?" O padre repetiu.
"Plumas em todos os lugares, Padre!"
"Agora eu quero que volte lá e reúna todas, até a última das plumas que voou para fora com o vento! " Disse o padre.
"Bem," disse ela "não há como fazer isso, eu não sei aonde elas foram, o vento as espalhou para todos os lados. "
"Isso", disse o Padre O'Rourke,"é a fofoca!"

Parábola retirada do filme "Doubt" (Dúvida) com os excelentes, Meryl Streep, Amy Adams e Philip Seymour Hoffman. É o primeiro dos indicados que assisti, recomendo.

Cuidado com as palavras que saem da sua boca, com o que fala, sobre o que fala e sobre quem fala.

Encerro também com uma frase que eu gosto muito, que foi proferida por Nietzsche "Mais fácil lidar com uma má consciência, do que com uma má reputação."

"Doubt" - Meryl Streep, Amy Adams e Philip Seymour Hoffman
104 Minutos
Direção John Patrick Shanley
5 Indicações da Academia Oscar
Baseado na peça homônima de John Patrick Shanley


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Wien - September 5, 2003

Praça da prefeitura de Viena.

"O dia hoje está melhor, os pensamentos mais tranquilos, mais em paz que no meu primeiro dia aqui. Acho que Deus realmente me enviou esses três anjos-amigos, para que eles me acalmassem e me fizessem retomar a sanidade. A nuvem preta e pesada foi embora, o sol parece mais alto, mais brilhante e o som de Deus está pertinho. Gostaria de ter alguém pra amar, essas frases escritas no rodapé e no cantinho da pagina são da música "The Scientist" do Coldplay, acho que agora posso ouvir essa música e entender esse amor, que afinal só eu sentia pelo du, mas hoje já consigo ouvir sem chorar. Algum dia alguém, alguém que Deus escolher a dedo "Esse é meu presente para você", aí sim, esse cara vai ser digno de todo meu amor, pq meu coração está trancado agora, para o sofrimento, para a dor... e só vai se mostrar novamente quando Deus me mandar essa pessoa. Agora só quero pensar em como aproveitar meus dias aqui em Viena, nessa mágica cidade! Será feita a vontade do Senhor, não tenho duvida nenhuma disso... e seja ela igual a minha ou não, vou aceitar prontamente."

Em 2003, no inicio da minha transição, tomando Androcur e spironolactona e etc etc, fortes e depressivas, após uma grande decepção amorosa, me dei ao luxo de realizar um sonho, me joguei na europa sem rumo, em pleno Outono. Hoje vejo que nao aproveitei qse nada, pois só fazia chorar e me lamentar, estando em Viena, em Berlim, em Frankfurt e em Madrid, burra, burra e burra.

Em Viena aconteceu uma situação muito curiosa e que eu nem lembrava mais, foi relendo hoje meu diário que refresquei a memória. Uma noite saí do albergue e fui jantar no Millenium Shopping, fui a pé pq era perto, no caminho um Audi preto me seguiu, bem devagar, um cara lindo baixou a janela e começou a me cantar, me oferecer carona, eu ROXA de vergonha, ainda bem andrógena, nada feminina e decisiva como hoje. Não fui, claro, dei risadinha e falei que "nao", ele insistiu, mas eu fui firme no "nao". Devia ter ido, né?! hahaha! Me lembro e ta escrito aqui "ele era lindo".

Não recomendo, e vai uma dica preciosa, não recomendo as meninas que estão tomando Androcur, tomar qualquer atitude ou decisão importante. Apesar dele ser um elixir milagroso para a feminilização do corpo, ele faz um mal danado pra nossa mente (sem contar pro nosso fígado) nos deixa paranóicas, depressivas, triste eternamente e não tem fluoxetina que dê jeito! Talvez tenha sido por isso q nao o tomei por nem 8 meses.

Coldplay com seu "The Scientist" que tem uma letra linda, devidamente traduzida.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

'De repente 30' e 'Diário de uma Paixão'

Os filmes da minha vida.

Volto a falar de filmes. Hoje dos meus dois favoritos, empatados técnicamente em primeiro lugar, a única forma de separá-los é por gênero, o "De repente 30" sendo uma comédia romântica e o "Diário de uma Paixão" sendo um drama romântico. Para quem já assistiu ambos, eles podem não ser seus favoritos, mas é inegável que são dois filmes excelentes, com ótimas atuações, ótima história e que garantem diversão e emoção.

"De repente 30" é com a divertida Jennifer Garner e o lindo Mark Ruffalo, o filme doce e engraçado, onde Jenna, uma garota de 13 anos tem seu pedido de aniversário mágicamente atendido, tornar-se adulta, de um dia para o outro, tendo que se adaptar a sua nova vida aos 30 anos. Quem não quer se tornar amigo da Jenna e do Matt? Comer Razzles? e dançar Thriller na festa da empresa? Você vai rir e torcer pela Jenna, amar a trilha sonora que é toda recheada com clássicos da década de 80. É filme pra ver e rever qdo aquele dia triste, cinzento e chato aparecer.

"Diário de uma paixão" é um filme adaptado de um livro, por sinal do meu autor predileto, o americano Nicholas Sparks. Numa clínica geriátrica, Duke, um dos internos mais saudáveis, lê para outra interna, está com Alzheimer, uma linda história de amor, entre Allie Hamilton (Rachel McAddams) e Noah Calhoun (Ryan Gosling), a história se divide entre o presente no asilo e a história lida que se passa na década de 40/50. É uma história de amor que vai te encantar, surpreender e levar aos prantos. É filme pra você ver ao lado da pessoa amada ou quando você quiser chorar por não ter um amor como aqueles. Uma curiosidade, os atores Ryan e Rachel, que fazem o par romântico do filme, se conheceram durantes as gravações, se apaixonaram e estão juntos até hoje.

Quem acompanha e lê pode pensar "Que tola e fútil, olha os filmes que ela mais gosta, bem mulherzinha", pode ser, eu sou cinéfila, minha coleção conta com mais de 300 filmes, em todos os tipos e categorias, de nacionais a europeus e indianos, mas mesmo assim, digo e repito, nenhum me tocou como esses dois me tocam.

Alguém viu minha vida por aí?

Tédio. Apreensão. Frustração.



As vezes até eu acho que estou me tornando repetitiva, mas, fazer o quê, é a vida que me faz assim, queira ou não queira, está emperrada. Como vocês bem acompanham, desde quando fiz minha CRS em 2007, sai do hospital e dei entrada no pedido de retificação civil (adequação dos documentos.) Minha retificação saiu em Setembro 2008 e um mês depois foi revogada (houve recurso) por parte do Ministério Público Paulista e o mesmo foi encaminhado para a capital. Em Novembro o orgão entrou em contato solicitando uma conciliação da sentença, minha advogada acatou, mas desde então, nada de retorno. Quanto tempo vai levar pra que o ministério publico ou algum promotor se sensibilize, pegue a ação em mãos e resolva tudo de uma vez? Ano passado lembro que pensava "Ainda esse ano sai" e não saiu, agora, me pergunto, será que vai? São Paulo é foda nesse ponto, essa lentidão da justiça me mata, me agonia, me tira o sono!

' Engraçado' (oi?) é que nem estou pedindo muito, o processo de retificação pós-cirurgia já é via de regra aqui no Brasil, visto que não temos legislação a respeito, devido a lentidão da Senadora Fátima Cleide, que desde 2007 tem parado um projeto (já aprovado pela câmara) da qual é relatora, que viabilizaria a retificação quase que automaticamente.

O curioso é que as situações só se tornam constrangedoras quando apresento meus documentos, que ainda constam com meu nome de batismo, ou seja, meu físico feminino e natural atual não condiz em absoluto com o que consta lá no papel, masculino e testosteronado. Após o fato constatado e os olhares apavorados, eu não posso parar e relatar minha biografia, nem saco pra isso eu tenho. Dói? É chato? Desagradavel pra caramba? Me sinto mal? Oh! Só quem passa por isso sabe o que é! Voltamos naquela questão de um post meu antigo aqui, da importância do nome.

Na faculdade, eu só quero me preocupar com as provas, com os trabalhos e não com o nome masculino na lista de chamada; no trânsito, só quero ficar atenta aos sinais, as setas, as placas e aos motoqueiros, não com o policial preconceituoso de uma blitz; na balada, eu quero mais é me divertir, me preocupando apenas com quem vai me levar pra casa se eu ficar muito bêbada e não em chegar lá e ter de apresentar a identidade na recepção; e o cartão de crédito, ah o cartão de crédito, só quero ter certeza que vou ter dinheiro pra pagar a fatura.

Poderia não me importar, peitar o mundo e fingir q sou inabalável com essas coisas? Poderia, mas eu não sou assim. Quero logo minha retificação, o ofício do juiz em mãos, quero é ter Sarah lá no documento, lá no cartório, estudar, trabalhar, ter minha casa, casar, apenas levar uma vida que seja o mais normal possivel, sem causar, sem escrever um livro sobre minha história, muito menos servir de inspiração pra quem quer que seja.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Mãe Mutter Madre Mere Havha


Por melhor que o pai seja, mãe é mãe. Tenho um amor incondicional pela minha mãe, somos muito parecidas, brigamos, batemos boca, mas também saimos fazer compras juntas, passear e é uma das companhias mais gostosas que tenho. Obviamente muito do que sou hoje, do que aprendi com ser mulher, adquiri dela.

Taí uma frustração que nunca vou conseguir superar e dizer "está cicatrizada e aceita", quantas e quantas vezes não chorei no colo do amado, pq nunca poderia dar um filho pra ele, o fato deu não poder ser mãe judia, tá, posso adotar? Posso, mas não sei, não tenho opinião formada sobre o assunto.

Eu queria mesmo era engravidar, gestacionar, ter um filho, do meu sangue fundido com o sangue do meu amor, sentir os enjoos, as vontades, ficar chata pelos hormônios, sentir a libido ir nas alturas, fazer sexo grávida (que dizem ser o melhor da vida), andar pelas ruas exibindo aquele barrigão lindo, engordar, inchar, ter estrias no quadril, ser uma grávida que faz pilates, ioga e assim dar a luz um filho, sofrer todas aquelas dores do parto, ver meus peitos caírem e o bico rachar com a amamentação. E não teria só um não, teria no mínimo 3 filhos, se tivesse bem financeiramente, aí seriam de 4 a 5.

E gostaria que o primeiro fosse um menininho, educa-lo pra ser um homem adorável, gentil, pois belo ele certamente seria na mistura linda entre eu e o pai dele. Ver naquele ser ambas as características, a minha boca e o narizinho do pai, meu cabelo e os olhos dele. Faria questão também de usar o sling, aquela faixa de tecido que as africanas usam para segurar/apoiar o bebê no colo e poder ter as duas mãos livres, sem falar no contato presente sempre, entre mãe e filho.

Passar os valores e condutas éticas que recebi, levar pra praia, tomar banho de banheira juntos, levar pra dançar quadrilha na escolinha, no tae kwon do e ao observar ele e o pai brincando juntos, reconhecer manias, caretas e expressões minhas e do pai, como uma mini-copia.

Ah a maternidade, no alto dos meus 24 (qse 25 anos), nesse momento, estaria grávida, seria uma mãe jovem e isso em nada atrapalharia minha carreira, pelo contrário, adoro a idéia de ser uma mãe multifacetada.

Um casal sem filhos é algo triste, solitário, não tem gato, cachorro, papagaio que dê jeito.

Minha dica, meu conselho, minha mensagem é... Mulher, valorize, goste e regojize-se em poder gestacionar, ser mãe, em poder dar a vida a outro ser, ame e curta demais esse seu momento quando ele chegar, pois ele é exatamente o que eu sempre vou querer e jamais poderei alcançar.

Lindo vídeo do Jornal Hoje sobre a utilização do Sling, cada vez mais popular no Brasil.
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