segunda-feira, 8 de junho de 2009

Transtorno de identidade de gênero - Folha Universal

Capa Folha Universal nº895.

Uma agradável surpresa, foi assim que reaji à matéria de capa Folha Universal, publicação semanal da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), tida como uma das igrejas evangélicas mais radicais e preconceituosas, todavia, a reportagem mostra uma abordagem científica e esclarecedora, baseada basicamente no documentário "Meu eu secreto", já traduzido e postado aqui no blog. Segue abaixo na íntegra.

Jazz, de 6 anos, é aparentemente uma estudante norte-americana comum. Usa vestidos, tem cabelos compridos que enfeita com tiaras coloridas, e um quarto rosa e lilás onde brinca de casinha com as amigas. Chega a ser difícil imaginar que Jazz, na verdade, nasceu menino. Quando tinha pouco mais de 1 ano e começava a dizer as primeiras palavras, a criança deixou claro que se sentia como uma menina. Abria os macacões para parecer um vestido e, quando os pais o elogiavam dizendo "bom menino", os corrigia dizendo "boa menina". Os pais de Jazz acreditaram que aquilo iria passar. Mas não passou. A criança continuava insistindo nas coisas de meninas e dizia que o pênis era um engano. Um dia, surpreendeu a mãe com a seguinte frase: "Quando a fada boa vier, será que ela pode mudar minha genitália?"

Casos como o de Jazz, que sofre de um distúrbio conhecido como transtorno de identidade de gênero, começam a gerar sérias discussões na Europa e nos Estados Unidos. Não existe uma teoria definitiva sobre o assunto. Na prática, é como se a criança tivesse nascido no corpo errado. Alguns especialistas defendem que até a oitava semana de gestação, os cérebros de todos os fetos são iguais: femininos. Depois desse período, a testosterona (hormônio masculino) surge no organismo dos bebês que serão meninos e começa a atuar na formação do feto. Uma possível falha hormonal nesse processo pode imprimir o gênero errado no cérebro de algumas crianças. O hormônio atinge o corpo, que desenvolve órgãos sexuais masculinos e outras características, mas não chega ao cérebro, o que faz com que a criança, ao nascer, pense e se sinta como menina. Ou, então, o hormônio chega ao cérebro, mas não ao corpo.

Seja qual for a explicação exata, psicólogos, médicos e educadores não sabem exatamente o que fazer em casos de crianças, que como Jazz, são chamadas de transgêneres. Há quem defenda que detectar o problema na infância pode evitar traumas às crianças e aos pais. "Na verdade, essas crianças são transsexuais. Eles sentem que nasceram no corpo errado e percebem isso desde crianças, por isso querem mudar o corpo. Mas não significa que elas tenham atração por pessoas do mesmo gênero", diz Antônio Carlos Egypto, psicólogo e sociólogo, membro fundador do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS).

Nos últimos tempos, a mídia norte-americana tem dado especial atenção ao tema. Segundo matéria do canal de notícias "CNN", há escolas que, frente ao surgimento de um aluno transgênere, optaram por instalar banheiros unisex, além de orientar professores e se disponibilizar a esclarecer dúvidas de crianças e pais de alunos.

A respeitada jornalista Barbara Waters, do canal "ABC", segunda maior emissora de tevê dos Estados Unidos, fez um documentário com três famílias de crianças transgêneres e tentou explicar porque os pais preferem aceitar o desejo dos filhos em vez de forçá-los a se comportar de acordo com o sexo que nasceram. Entre as famílias estava a de Jazz. Renee Jennings, mãe da hoje menina, só encontrou explicação para o comportamento do filho caçula com uma terapeuta especializada em questões de gênero, que fez o diagnóstico: um transtorno raro, chamado transtorno de identidade de gênero. Ao aceitar que o filho se vestisse como menina, Renee acredita que tomou a melhor decisão para a felicidade dele. Ou, pelo menos, evitou o pior.

Um estudo da Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos, confirma que crianças transgêneres reprimidas ou rejeitadas pela família têm quatro vezes mais chances de tentar suicídio ou usar drogas e duas vezes mais chances de contrair o HIV. Mas, ainda segundo a pesquisa, as chances caem drasticamente para aqueles que são aceitos e, de fato, assumem a identidade que acreditam ter, como Jazz. "Nós não o estimulamos, de maneira alguma. Só demos apoio", disse Renee, no documentário da "ABC News". "Possuir variação de gênero não significa que seu filho irá crescer e se identificar como gay, lésbica ou bissexual. É importante convencer a si mesmo e seu filho de que não estão fazendo nada de errado. Ser diferente não é errado é apenas diferente. Ninguém decide a qual gênero pertence, apenas se sabe", explica a norte- americana Kim Pearson, diretora da Tyfa, uma espécie de Associação de Parentes e Amigos de Crianças Transgêneres, criada há 2 anos nos Estados Unidos.

E o transtorno não se manifesta apenas em meninos. Em 2004, Rebecca, então com 14 anos, escreveu uma carta para os pais, dizendo que deviam chamá-la de Jeremy. Ela pedia que eles aceitassem o que ele realmente era. Cortou os cabelos, comprou roupas masculinas e começou a usar faixas debaixo da roupa para disfarçar os seios. Foi bem aceito na escola, mas logo começou a menstruar e quis tomar hormônios para bloquear a chegada da puberdade. Com medo de perder o filho, que estava deprimido, os pais deixaram que Jeremy tomasse os hormônios aos 16 anos. Agora, o jovem faz a barba, a voz engrossou e o corpo se tornou mais másculo.

Especialistas se dividem quanto à idade para começar a tomar hormônios bloqueadores. A maioria dos médicos, no entanto, concorda que quanto antes, melhor. Por outro lado, a terapia hormonal também traz riscos à saúde, pois aumenta as chances de câncer de mama e de esterilidade. Na casa da família Grant, os pais estavam satisfeitos com o casal de gêmeos, Ally e Richard, que nasceram há 11 anos. Aos 2 anos, porém, Richard começou a dar sinais de que queria ser como a irmã, uma menina. Os pais tentavam estimular o menino a fazer atividades de menino. Até que, um dia, eles surpreenderam Richard tentando abrir um cortador de unhas para cortar o próprio pênis.

Quando Richard começou a ter ataques de pânico em casa e na escola, a mãe foi falar com a coordenadora e explicou o caso. A escola, então, levou a família a um especialista, que diagnosticou o distúrbio e os orientou a deixá-lo se comportar como menina. Quando tinha 7 anos, Richard deixou o cabelo crescer e, com o apoio da família, passou a ser chamado de Riley. Também começou a tomar hormônios bloqueadores. Daqui a uns anos deve começar a tomar hormônios femininos e, aos 18 anos, poderá, se quiser, fazer a cirurgia para se transformar fisicamente em mulher. Na escola, entretanto, Riley ficou conhecida como "a menina com pênis".

A discriminação e o preconceito, aliás, são os principais problemas enfrentados por crianças e famílias que decidem apoiar o filho para que ele viva de acordo com o gênero que ele sente ser. E o preconceito que crianças transgêneres sofrem pode passar de xingamentos e chegar ao extremo. Gwen Amber Araujo, uma transgênere norte-americana de 17 anos, foi cruelmente assassinada em uma festa, em 2003, após colegas de faculdade descobrirem que era biologicamente homem. Hoje, a mãe dela, Silvia Guerrero, dá palestras sobre o assunto tentando informar a população "até que as pessoas parem de morrer pelo que são". Os assassinos foram presos. Mas Silvia diz que sente falta de abraçar a filha. "Eles mataram meu bebê, que eu gerei no meu ventre, e não um adolescente aberração-transexual".


Fonte: Pag8. Folha Universal
Jornal semanal Folha Universal nº895, publicação da Igreja Universal do Reino de Deus
email para parabenizar o jornal sobre a matéria
faleconosco@arcauniversal.com
Este post foi baseado no do Homer do Blog Transhomem

4 comentários:

Unknown disse...

Linda!!

Interessantíssimo o artigo e acho mais interessante ainda você postar e informar as pessoas sobre o assunto. Eu por exemplo era leiga no assunto. Preconceito nunca tive, pois acredito que cada ser tem direito de fazer a sua escolha, seja ela qual for. Mas informação nunca é demais não é mesmo?

Continue postando... adoooro!

bju

Amanda Rocha disse...

Oi Sarah
Eu li a reportagem e também foi uma grata surpresa, jamais esperava isso vindo de uma religião tão preconceituosa. É até interessante o contraste dessa reportagem coma matéria que passou na record semana passada, na qual eles mais uma vez fizeram uma salada com orientação sexual e gênero. Fiquei feliz em ler algo publicado em português sobre disforia de gênero de forma tão informativa, é uma excessão, espero que venham mais no futuro.
Obrigada pelo comentário que deixou no meu blog. Reforço o que comentei no post "ostentando a galhada" , estou torcendo por vc, desejo que vc seja muito feliz. Bjo

Sarah disse...

Luh! informação nunca é desperdicio né? ainda mais assim, valida, limpida e esclarecedora como dessa materia! Beijinhus!
.............................
Amanda!
obrigada pela torcida na "galhada", to pensando bem viu? mas qto ao texto, olha, demais ne? me causou surpresa e ja mandei um email parabenizando a equipe d produção sobre o texto. Bjss

Crisenta disse...

Nossa adorei o assunto do post, confesso que ate então sabia qse nada ou pouco sobre o assunto, realmente e um assunto mto complexo que envolve, váárias coisas, nao so a ciencia como a cultura a religião! mais achei mto legal as femilias relatadas aqui terem aceito os filhos como eles se sentiam ser, de fato e o melhor a fazer.. agora a sociedade aceitar e inserir isso culturalmente na cabeça das pessoas ja e outra coisaa bem mais dificill! beijos e boa semana

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